tigres

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domingo, 12 de setembro de 2010

Vampiros

Os vampiros estão na moda.Nada de novo nisso,já que os morcegões

habitam com familiaridade o imaginário literário,cinematográficoe

teatral desde a publicação do "Drácula",de Bram Stoker,em meados de

1890.

O que chama mais atenção são as adaptações que as figuras noturnas tem

sofrido, adaptações por vezes mais delicadas do que simples mudanças

de corte de cabelo ou vestuário,como no cinema.

Por exemplo:há vampiros hoje que são contra a violência,e até contra o

sexo antes do casamento.Tudo bem,mudanças éticas são formas bastante

eficientes de adaptação.Mas há mudanças que não são tão explícitas,que

se efetuam no recalque de certos elementos do mito,e que são as que

mais nos interessam.Justamnente porque nesses recalques vão aparecer

elementos inquietantes de nossa época.

Primeiro:nos atuais modelos adolescentes de vampiro,vividos por moços

e moças lindos "de morrer",recalca-se um elemento tão importante do

mito como sugar sangue:os vampiros são corpos mortos animados,o que

lhes confere características importantes como a pele fria,a palidez

cadavérica,a magreza esquelética,em suma,o aspecto de um corpo morto.O

vampiro é uma figura da morte.

Daí que é difícil imaginar um(a) adolescente de hoje fascinado com tal

figura,cheirando mal,gelada e endurecida.Mais do que isso:o vampiro é

um corpo morto passeando por aí,não um moço que morreu mas não morreu

e vaga melancólico pelas paisagens da moda.Ou seja,o vampiro é uma

figura eterna da morte,e não de juventude eterna.

Segundo,o vampiro não é bem humorado;os mitos que deram origem à sua

figura têm sua origem em histórias de defuntos que voltam da tumba

para se vingar dos vivos,ou por eles estarem vivos,ou por não terem

honrado seus mortos como estes desejavam.Nessa vingança são

invejosos,cruéis,imorais,são puro ressentimento e amargura;são figuras

de desttruição e rancor.Nada a ver com jovens inconformados com um

mundo desumano(!) que caminham por uma eterna noite "blazé".

Terceiro,o vampiro é uma reação de pequenas comunidades européias

contra a visão cartesiana do humano que invadia ,através dos

colonizadores,o imaginário pagão da Europa oriental e central.

Contra um homem cartesiano composto de alma e corpo,que liberava sua

alma imortal no momento da morte,dando lugar a um corpo

-coisa-cadáver,"res extensa",o mito do vampiro contrapunha uma forma

de vida que prescindia da alma

.Claro que paralelo às epidemias de vampirismo dos séculos XVI e

XVII,a igreja entrou em campo com a idéia do vampirismo como

maldição,resultado de atos do morto como não ser

batizado,suicidar-se,ser filho ilegítimo,fornicar fora do

casamento.Mas fica no âmago das histórias da criatura noturna esse

desafio à antropologia cristã-cartesiana,o triunfo impertinente de

mortos vivos que andavam e desejavam sem precisar ter uma alma;mais

que isso,estavam livres da danação eterna no inferno,já que o que vai

para o inferno é a alma,coisa que eles não tem.

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