Cada vez mais os devaneios me parecem inseparáveis das situações de
restrição de liberdade.Quem devaneia é alguém que não pode sair
andando em direção ao objeto de seus devaneios.O adolescente que sonha
acordado com o encontro amoroso durante a aula,o prisioneiro que
sonha com a praia de dentro da cela,o passageiro do ônibus que sonha
com a cerveja na praça.A angústia do constrangimento físico se
volatiliza na leveza do que devaneia,e uma vez mais o sonhador sente a
potência do seu desejar.
O corpo restrito preso a um mundo de peso se torna leve etéreo e dança
nos caprichos do pensamento.Daí que o devaneio seja irmão do sonho e
da poesia;aqui a beleza já não é capricho,mas artigo indispensável
para a sobrevivência.
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