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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ethos guerreiro e decisão

Conta a Ilíada que durante a Guerra de Tróia Aquiles,um dos guerreiros mais importantes da Grécia,retirou-se da batalha devido a um desentendimento com o chefe do exército grego,Agamemnon.
Nesse desentendimento Aquiles  tinha se sentido desconsiderado,menosprezado em sua importância.Devido a um castigo que caía sobre os gregos,uma peste que dizimava homens e animais,vingança de Apolo,os gregos foram obrigados a devolver a filha de um sacerdote daquele deus aos troianos.Justamente a donzela que era o despojo de guerra principal entre os conquistados por Aquiles.O herói enfureceu-se por ter de abrir mão de sua conquista,sendo que outros chefes,como o próprio Agamemnon,não teriam de passar por isso.
Levando em conta sua importância no confronto,suas habilidades e sua ascendência divina,Aquiles se viu tratado com injustiça pelos chefes gregos.Assim,retirou-se do combate,passando a observar o andamento da guerra d longe,d dentro de suas tendas armadas na praia ao lado de seus muitos barcos.
Não seriam poucos os companheiros que perderiam suas vidas devido à ausência de Aquiles.Essa situação é narrada na Ilíada sob o título"A ira de Aquiles".
Várias foram as comitivas enviadas pelos gregos na tentativa de demover o herói dessa posição,tais os estragos que vinham se abalando sobre as fileiras gregas nesse intervalo.Inicia-se aí um diálogo de Aquiles consigo mesmo na tentativa de ponderar sobre os acontecidos na guerra até então e outros provindos de sua história anterior a essa guerra.
Sabia que podia voltar as costas aos gregos,e comseus navios repletos dos despojos conquistados até então voltar para sua pátria.Lá seria recebido junto a seus pares com honras dignas de seu valor,dignas de um deus.Seu nome seria cantado,seus feitos recordados.Teria inúmeras esposas e filhos,viveria ua vida longa e tranquila,desfrutando de uma velhice doce e mansa até a hora de descer ao Hades.
Podia também embrenhar-se novamente nas veredas da guerra;submeter à sua espada os exércitos ferozes de Heitor e Páris,conquistar a cidade de Tróia,evitando a morte de mais companheiros.Com a vitória dos gregos sua fama cresceria mais ainda,seu nome passando a ser o outro nome da coragem,do ethos guerreiro,da virtude e da glória daquele que nunca foge do inimigo.Sabia no entanto,por meios divinos,proféticos,que essa escolha lhe traria a morte certeira em breve,jogando-o d forma violenta ao Hades.Sombra sem carne,para sempre apartado do convívio dos mortais.Entre eles,seu nome agora seria um nome,uma lenda,cantado de bocas para ouvidos até o fim do tempo.
A Ilíada conta que Aquiles voltou ao combate,após seu amado Pátroclo ter sido morto por engano por Heitor.
Será que o sentido dessa decisão se esgota na ira pela morte do amado,no pathos sanguíneo que busca a vingança imediata pelo agravo de dor tão intensa?Nietzsche afirma que o pior que pode acontecer a alguém é ser apartado de sua própria potência.Ver abortado o seu vir a ser,ver desvanecer-se com o sonho,na chegada da manhã e do despertar,o rosto do si-mesmo que sua alma preparava-se para parir e acalentar,o rosto de quem se é.
Aquiles decidiu-se por ir ao encontro do seu si-mesmo mais próprio,seu único,finito, mortal si-mesmo.Sua humana potência,toda glória e toda finitude.Seu nome chama agora a figura da coragem,mas também da decisão.
Decisão como o ato fundante do si-mesmo,revelador de sua coragem de forma absolutamente singular,fugaz como as flores que as grossas gotas da tempestade fazem brotar do asfalto.Infinito e indestrutível como elas.

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